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domingo, 6 de abril de 2014

A Culpa é do Meu Estômago


Eu estava prestes a iniciar o enterro do Gus, quando meu celular vibrou ao meu lado.
“Tem planos pra hoje?”
Dona de lindos cabelos cacheados, Amanda- uma garota muito legal, com quem eu queria realmente ter amizade-, me convidou pra ir ao shopping bater perna porque ela queria comprar um livro. Não que eu tivesse dificuldade pra fazer amigos; pelo contrário, eu tinha muitos, mas péssimos. Deve estar se perguntando como sei que ela seria diferente e porque a julguei prematuramente uma boa amiga. É porque ela está separada, assim como eu, da imundice desse mundo e não segue os padrões rebaixados do mesmo.
 Eu estava com o cabelo todo ensebado, olhos inchados e vermelhos de tanto chorar, parecendo um sapo, deitada no sofá lendo “A Culpa é das Estrelas”, quando recebi o convite. Hoje eu acabo de vez com esse livro, pensei. Mas meus planos mudaram quando recebi a mensagem, que veio em boa hora, pois eu precisava mesmo ir ao shopping comprar um suplemente vitamínico pra Wendy, minha tartaruga- isso não vem ao caso.
Ás dezenove e meia em ponto, ela tocou o interfone. A viagem para o mais novo shopping da cidade não foi tão longa levando em conta que ficamos batendo papo no carro. Quando o pai dela estacionou e ela desceu, fiquei esperando que ele descesse também. O pai dela é muito legal e já se tornou um grande amigo. E a viagem até o shopping é muito longa para apenas uma carona, por isso presumi que ele fosse conosco. Mas não.
 Esqueci de dizer: Dentro do carro perguntei à ela que livro ela tinha em mente comprar, e ela respondeu “A Culpa é das Estrelas”. Contei, empolgada, que eu estava terminando exatamente esse livro quando ela me chamou pra dar uma volta e que é muito bom, e que ela vai chorar muito, e amar e amar e amar.
 Bom, retomando, entramos na livraria e demos de cara com o tal livro do John Green; ela estava muito indecisa sobre comprar ou não, mas eu a convenci. Logo peguei “Destrua Esse Diário”, que sempre achei muito interessante, mas assim que vi meus 19 reais sendo rasgados, amassados e pisados, figurativamente, fiquei indecisa sobre comprar. Antigamente eu pensava que o “Destrua Esse Diário” era um livro que continha uma história, e eu não entendia porque ele era tão famoso se eu nunca sequer vi uma sinopse. Quando descobri que ele instruía seu dono a, literalmente, o destruir, eu achei a ideia muito boa e libertadora. Deve ser bom pra pessoas tímidas e retraídas se soltarem. Eu sabia que, assim que o comprasse, estaria assumindo um compromisso invisível de cumprir todas as instruções do que devia fazer com ele.  Mas, porém, entretanto, eu também não queria “jogar meu dinheiro fora” e, acredite, tem muitos cupcakes por aí, esperando para serem devorados por mim, tendo como última visão meu dinheiro sendo queimado por eles, antes da mordida fatal. Claro que Amanda retribuiu meu incentivo, e também que convenceu a comprar o livro.
 Saindo de lá, passamos por um corredor muito movimentado e procuramos nos informar. Que exagero dizer que procuramos nos informar, nós apenas lemos uma placa em que dizia: “Experiência Escher” e entramos. Havia me esquecido que ainda estava tendo aquela exposição e fiquei com um sorriso de orelha a orelha por não ter perdido nem passado reto. Quadros ilusionistas e psicodélicos maravilhosos. Desenhos que observei de perto para crer que foram mesmo feitos a caneta. Vocês nem imaginam como é difícil desenhar a caneta. Acho que nunca, jamais, serei capaz de reproduzir tantos detalhes e aquela arquitetura perfeita. O tempo todo fiquei pensando: “Veja as coisas que o homem é capaz de fazer”.







O que mais gostei foi Metamorphose, abaixo. Se tiver como vocês aumentarem, ou verem outra imagem dessa obra, seria muito legal. Faz parte de um quadro só, em sequência.

Logo depois tiramos fotos nos gigantes cenários psicodélicos e inteligentes de Escher: Em um, parecíamos cair em um buraco sem fim (perdoem minha descrição limitada); em outro, com ilusão de ótica, a pessoa que se localizava em um canto da sala ficava gigante, enquanto a outra, do outro lado, ficava minúscula. Pelo menos uma vez em minha vida, senti o prazer de ser “alta”.



Fui á uma loja de animais ridiculamente enorme, em busca do complexo vitamínico da minha tartaruga, que vive doente, mas não tinha. Achei absurdo terem tanto espaço, tanta coisa, e não o necessário. O meu necessário. O necessário da Wendy.
 Procuramos um lugar legal pra comer e paramos em uma loja com um cardápio convidativo a qualquer ser humano com a capacidade de enxergar, mas completamente não-recomendado para diabéticos. Decidimos pedir um sandae, o meu tropical e o dela, frutas vermelhas. Nos sentamos nas mesinhas que se encontravam do lado de fora do shopping, cercado apenas por vasos de plantas, sem nenhuma cerca ou marcação definitiva; o local era tão pequeno que acho que só havia três mesas com guarda-sóis inúteis (pois estava de noite) e, além de nós, apenas uma família se encontrava lá. Uma pena não ter outras mesas dentro do shopping, porque fora do ar condicionado, estava um forno. Tivemos longas conversas e vi que temos muito em comum. Eu estava tão envolvida no assunto que nem reparei quando nossos copos (grandes demais, pra ser sincera) recheados de pedaços de frutas diversas com sorvete e cobertos até o topo com chantilly chegaram. Reparei menos ainda quando a tal família foi embora. Rimos de chorar e demos de cara com o clichê que sempre nos é apresentado: “Esse mundo é pequeno demais”, pois descobrimos que eu conheço algumas pessoas que ela conhece. Amigos em comum.
Na volta, me senti aquela criança de 8/9 anos que se inclinava ao máximo para ver as estrelas pela janela do carro- desejei que ninguém me visse olhar com tanta nostalgia as belas lanternas flutuantes, fazendo referência ao filme Enrolados. Uma música do Coldplay tocou suave ao fundo. Não sei que música era, mas todas as músicas deles são boas. Julgo-as perfeitas para estarem na lista das que são tocadas nas lojas de roupas do shopping (Você sabe o quanto é legal vestir uma roupa qualquer em um provador qualquer com uma música bonita que sistematicamente tem que combinar com o ambiente compulsivo pelo qual você sente prazer em estar?). Eu gostaria de ouvir uma música do Coldpay enquanto faço compras compulsivamente.
 Enquanto olhava para a escuridão do outro lado da janela, fiquei pensando em como a vida é engraçada e em como as consequências de nossos atos podem fazer cócegas na barriga: Mais cedo, no mesmo dia, estava eu chorando no meu sofá, deitada confortavelmente, apenas desejando que ninguém mais da casa acordasse para que eu pudesse ler em paz sem o barulho da televisão; bastou um convite feito por SMS para que todo o meu futuro a curto prazo se mudasse drasticamente. Em vez de mais um dia normal e tedioso, lá estava eu fazendo uma viagem a noite (porque, como eu disse, o shopping era muito longe e a gente até passava por estradas). E eu amo viajar a noite. Fiquei pensando em como era legal o fato deu decidir onde eu poderia estar. Depois de tantos anos presa a uma casa onde mal dá pra ver o céu, fico feliz quando me encontro em lugares com o céu aberto.
 Tudo estava tão escuro que nem dava pra ver a divisão entre chão e céu. Aos poucos as luzes da cidade (estraga prazeres) me ajudaram a distinguir a linha do relevo. Passamos por um contorno de árvores perfeitamente enfileiradas em cima de um monte, e as estrelas que enfeitavam a cortina esticada logo atrás tornava mais lindo aquele “quadro”. Estávamos separadas apenas por um vidro de janela de carro, a paisagem e eu.
Chegando em casa, não resisti a tentação e folheei cada página do “Destrua Esse Diário”; eu não queria estragar a surpresa das coisas que terei que fazer, mas pensei “ah, que se dane, amanhã eu esqueço”.
Hoje acordei cedo demais e isso vem acontecendo com frequência. Decidi terminar “A Culpa é das Estrelas”, o que é meio triste, porque não queria que acabasse. O livro me proporcionou por 3 dias uma experiência deliciosa. Dei boas gargalhas e derramei lágrimas amargas.
Não me importei com o que algumas pessoas disseram na escola, me julgando: “Nunca lerei esse livro. Já virou modinha”.  Eu queria ter tido essa experiência. Eu queria saber qual é, afinal, a história da Hazel Grace e do Augustus Waters. Eu queria ser mais uma pessoa que leu o fomoso livro “A Culpa é das estrelas” e não me importava com o que pensavam disso. Confesso que esse desejo cresceu dentro de mim no exato momento em que vi, pela milésima vez, o trailer do filme que estão produzindo a partir do livro. O ator que escolheram pra representar o Gus é extremamente lindo, pro meu gosto, e foi ele quem mais me motivou a ler. Recordo-me que semana passada, quando esse desejo começou a queimar dentro de mim, pesquisei todos os filmes da Shailene Woodley, de quem já me tronei fã, e fiquei ESPECIALMENTE LOUCA pra assistir ao filme “The Spetacular Now”- porém, não encontrei na locadora e aluguei “V de Vingança” e “Gravidade” (Recomendo que assistam aos dois filmes; são de tirar o fôlego e indescritíveis (“V de Vingança” é citado no livro “A Culpa é das Estrelas”)). Não consegui ler imaginando os personagens de outra forma sem que fossem como os vi no trailer. Pude ver, verdadeiramente, o sorriso torto do Gus em cada página representado pelo ator Ansel Elgort, e juro que pude ouvir cada palavra inteligente saindo da boca da Shailene Woodley.
Não consigo ler com barulho. Por isso morro de raiva quando meus vizinhos decidem, sem me avisar, cantar e tocar pagode e soltar fogos de artifício- sem o menor sentido nem data comemorativa. Eu estava lendo as últimas páginas quando soltaram fogos, daí dei um pulo e perdi o ar.
 Sempre que acabo de ler um livro ou de ver um filme no cinema, tenho uma estranha sensação de vazio. Meu estômago começa a revirar e eu fico meio fora do ar, em transe. Isso sempre acontece. Dentro da sala escura do cinema é ainda pior, porque eu fico muito tonta com as pernas bambas enquanto desço as escadas e me agarro nas paredes pra não cair. Bem, eu odeio essa sensação de vazio e perda quando acaba um livro. Odeio.
 Estou me sentindo, particularmente, mal por não ter compreendido com clareza a grandeza dessa obra de John Green. Bem antes de acabar a leitura, eu havia me comprometido a lê-lo novamente, para entender cada expressão e interpretar cada palavra da forma correta.
 Minha análise (de mim, não do livro) agora: Espero que esse nó corriqueiro no estômago passe, e espero me sentir novamente próxima aos personagens dessa história fabulosa que a pouco encerrei. Fiquei feliz por ter me permitido me sentir mais uma jovem que lê John Green e que chora com histórias ficticiamente verdadeiras. “A Culpa é das Estrelas” é totalmente diferente do que eu pensei. Pra ser sincera, não montei uma pré-história na minha cabeça antes de começar a folhear o livro, mas não imaginei a dor e a afinidade que palavras poderiam causar em mim.
 Eu amei.
Amei sentir o que senti.
- Okay, Ansel Elgort, eu aceito me casar com você.
- Okay.

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